segunda-feira, 10 de junho de 2013

A Incerteza

   

   Eram dez horas da manhã quando acordei. Ao contrário de como acontece com todas as demais pessoas, meu amanhecer é escuro. Nenhuma fresta de luz, nenhuma claridade. Nenhuma cor. Acostumei-me a acordar e deparar-me com esse abismo negro, insondável, infinito. 
  Tateei em busca do despertador vibratório. Embaixo do travesseiro. Desligo-o. Bendita seja a pessoa que inventou uma coisa tão útil. Devo-lhe minha independência de acordar todas as manhãs.
  Cambaleante, levanto. Estou sonolenta, ainda. Esfrego os olhos, não para abrí-los melhor, mas para fechá-los melhor.Vou até o banheiro. Não sem antes tropeçar no que parecia ser uma peça de lego. Minha irmã mais nova tem dez anos, então possivelmente resolveu brincar no meu quarto. A dor no pé foi lancinante. Eu estava de pés descalços.  
  Chegar ao banheiro foi um alívio. Toco no espelho, encontrando nele o puxador. Terceira prateleira. Aí está. A escova de dentes e a pasta, devidamente colocados à esquerda. 
  Fico imaginando certas coisas. No momento em que escovo os dentes, sou invadida pela incerteza. Como será o meu dia hoje? Alguém surgirá dentre a escuridão? Alguém terá coragem de conversar comigo mais do que simples cumprimentos atiçados pela curiosidade?
  Não sei. Tudo o que sei é que estou aqui. Estou viva e meu coração bate. A cada batida, aumentam-se as dúvidas. Minha mãe sempre me diz, ao tocar-me nas mãos, que sou como uma flor ainda em botão. É preciso que eu desabroche.
  Mas como?
  Como eu posso florescer, mamãe?
  Se você partir, quem tocará as minhas mãos? Quem me segurará, quem me guiará? Quando eu tomar café, quem quebrará o meu silêncio?
  Estarei condenada a uma vida escura? Eu tenho medo. Medo, incerteza.
  Eu queria ser mais confiante. Para quem me vê, até sou.  Guerreira.  Corajosa.  Batalhadora.
  Aqui dentro porém, o escuro é infinito e eu sou muito pequena.
  Mamãe me disse que tem alguém que quer me conhecer. Um rapaz. Jovem, bonito, moreno, olhos negros como a minha escuridão.
  Suplicante, pedi à ela, que o deixasse escrever na minha mão.

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