terça-feira, 11 de junho de 2013

O Avião

  Não sei bem como cheguei aqui, mas quando dei por mim, estava de pé em meio ao caos. Haviam muitas pessoas correndo de um lado para o outro. Muitas pessoas estavam machucadas, o que indicava ter acontecido um grande acidente. Gigantesco, pelo número sirenes ensurdeceras que eu distiguia cantando no ar.
  Olho para o lado na tentativa de me recordar de algo, mas não consigo. Tudo de que me lembro parece ter explodidos em mil pedaços de diamantes. Tento em vão reter alguma coisa, mas me escapa. Fico confusa. A única coisa que sei é que estou de pé. E mais nada. 
  A cortina de fumaça faz formas engraçadas no céu. Oh, é mesmo... é um acidente. De avião.
  Corro na direção do sinistro, meu coração bate mais rápido. Por alguma razão eu me sinto ansiosa. Algo importante, talvez...?
  Os bombeiros gritam para as pessoas se afastarem, mas eu permaneço alheia a tudo. Algum imã poderoso prende-me à esse acidente. Se tão somente eu pudesse recordar...
  Gritos. Explosão. A noite ilumina-se como se a houvessem incendiado. Não sinto o calor das chamas. Eu continuo de pé. Assistindo o vai e vem interminável de pessoas desesperadas.
  O resgate começou.
  Será que alguém que eu conheço estava nesse avião e por isso estou aqui?
  Meu vestido está inteiro. Coloquei o mais bonito para esse dia. É o meu aniversário. Eu faço hoje dezenove anos. Percebo que não existe nenhuma fuligem no meu corpo. O vestido está inteiro e eu não tenho nenhum arranhão. Como foi mesmo que eu cheguei aqui? Passo a mão pelos meus cabelos e os sinto lisos e sedosos.
   Começo a estranhar. Todos que estão no local do acidente estão cobertos por uma espessa camada de névoa cinzenta. Sinto o cheiro da fuligem, mas este não me incomoda.
  Uma paz e uma angústia me invadem. Eu quero saber porquê estou aqui, nesse acidente, e o que ele tem a ver comigo.
  Aproximo-me de um jovem socorrista que trouxe um corpo frágil e carbonizado. Irreconhecível. Então escuto o bombeiro falando para o colega:
  - Essa não resistiu. Está com o corpo todo queimado. É uma pena. Hoje, pelo que soube por seus parentes,  era o aniversário dela.

Um comentário:

  1. Báh! Que legal, Vanessa! Muito bom esse conto. E não é pra puxar teu saco. Esse é legal mesmo. Parabéns! Gilmar.

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